A repentina intervenção do governo, que eleva os impostos de importação de veículos é claramente uma tentativa, a curto prazo, de proteger a indústria brasileira segurando a invasão asiática. Uma combinação de veículos com diversos opcionais, design e preço mais baixo foi o que atraiu os brasileiros à comprarem de marcas asiáticas. O mercado de veículos é só um exemplo desta situação. Se lembrarmos de alguns conceitos básicos de economia veremos que esta medida protecionista fere o princípio da economia de mercado, também denominada democracia dos consumidores. Elevar em até 28% o imposto para carros importados é o mesmo que barrar as escolhas dos consumidores brasileiros, exceto aqueles poucos com alta renda que não se importam com preço.
Temos que defender sim nossas empresas e empregos, além de valorizar nossas marcas. Entretanto, a “invasão asiática” que o governo se refere acontece pois os consumidores procuram sempre por melhores produtos e serviços. Isso é um indicador de que governo e empresas brasileiras não estão competitivas, falta valor agregado, falta inovação. Para se ter uma ideia, desde de que o ranking das 100 marcas mais valiosas do mundo começou a ser feito (em 2000 pela Interbrand), nunca uma empresa brasileira entrou na lista.
Esta intervenção do governo é semelhante à um atestado de incompetência, que fecha os olhos para uma deficiência. Barrar o livre mercado, a dinâmica da concorrência é o mesmo que desestimular o desenvolvimento de inovações e reduzir as opções para o consumidor. Dá impressão que é um passo para trás comparado ao que está escrito na bandeira do país. Antes dos anos 90, isto é, antes da abertura das importações, os brasileiros praticamente só tinham contato com produtos e serviços nacionais, dando uma percepção de isolamento com o mundo no qual a globalização é realidade. Parece um Déjà Vu, em que o governo olha para si e não para a liberdade individual de escolhas do cidadão. Enquanto Cuba, pela primeira vez desde a revolução de 1959, autoriza os seus cidadãos à comprarem e venderem livremente seus veículos, o Brasil se isola. Enquanto o mundo se abre, o Brasil se fecha.
Nossas marcas e produtos nacionais são de boa qualidade, mas poderiam ser melhores se a nação tomasse atitudes contrárias como desta de elevar o imposto de importação. O investimento de um pouco mais de 1% do PIB do Brasil em Pesquisa & Desenvolvimento é um indicador da lamentável produtividade de inovações, de valor agregado. Ao invés de culpar os outros de serem melhores(medida protecionista-paternalista), poderia-se admitir as falhas e investir no que realmente os recursos dão resultados sólidos. O design, sendo uma ferramenta de inovação acessível para qualquer tipo e tamanho de empresa, é uma alternativa para honrar as palavras Ordem e Progresso e reverter este quadro. Mas se continuar assim é capaz de voltarem à produzir o Fusca.
Abraços,
Eduardo M. Borba
Concordo! E esse hábito de culpar os outros por serem melhores se reflete em diversos âmbitos, não apenas no automobilístico. É mais fácil barrar o bom do que se aprimorar… E tem gente que acha que devemos valorizar o que é brasileiro só porque é… brasileiro!
O Excelentíssimo ministro Mercadante disse que “o carro nacional pode ficar até 28% mais barato do que o importado com o aumento do imposto”. Ora, estaria correto se baixassem o preço do carro nacional e mantivessem o do importado…
A desculpa é a de que querem gerar empregos e tecnologia no Brasil, para tornar nossos produtos mais competitivos. Mas será que vão injetar esses 28% em tecnologia?
É Ale, um país que está acostumado à séculos produzir e vender commodities tem aversão ao risco, isto é, aversão em inovar. É cultural. Porém, como a evolução na humanidade é um trem sem freio, esta cultura é e será obrigada à se abrir para o novo. E quando isso acontecer o Design estará pronto para servir ao país.