Durante muito tempo pensou-se que o processo de percepção não estava relacionado ao sistema emocional e que este acontecia de modo objetivo e racional, mas pesquisas vêm demonstrando que é justamente o sistema emocional o responsável pelos julgamentos e escolhas humanas.
O neurocientista Antônio Damásio fala sobre o caso de Phineas P. Gage, operário que trabalhava na construção de uma ferrovia e sofreu um acidente de trabalho. Segundo Damásio (1998 p.24) “O ferro entra pela face esquerda de Gage trespassa a base do crânio, atravessa a parte anterior do cérebro e sai à alta velocidade pelo topo da cabeça.” Imaginou-se que Gage morreria instantaneamente, mas para a surpresa de todos, ele permanece consciente, e não sofreu nenhuma lesão aparente. Os efeitos colaterais do acidente começaram a se manifestar de uma forma inesperada, ainda segundo Damásio (1998, p.27) “Sua disposição, seus gostos e aversões, seus sonhos e aspirações, tudo isso irá se modificar. O corpo de Gage pode estar vivo e são, mas tem um novo espírito a animá-lo.” A barra de ferro atingiu o sistema emocional de Gage, sua personalidade mudou completamente, e ele já não era mais capaz de fazer escolhas ou julgamentos, ter metas, sonhos e aspirações.
O caso de Phineas Gage junto com outros semelhantes fez com que os médicos descobrissem que a personalidade, assim como a capacidade de sentir e escolher está ligada a funções cerebrais relacionadas ao centro emocional e não ao centro do pensamento lógico e racional como se imaginava até então.
Pode-se perceber que a capacidade de tomar decisões é uma característica muito mais emocional do que racional, por isso os estudos em design estão buscando compreender como funciona esse sistema.
Através de pesquisas pôde-se verificar que objetos mais atraentes funcionam melhor, ou são mais fáceis de usar. Norman (2008) comenta que na década de 1990, dois pesquisadores japoneses Masaaki Kurosu e Kaori Kashimura, fizeram um experimento: eles tinham estudado diferentes layouts de painéis de caixas eletrônicos, que eram idênticos em função, número de botões e maneira como operavam, porém alguns deles tinham os botões e o layout disposto de maneira atraente e outros não. Nos testes com os usuários, eles responderam que as máquinas atraentes eram mais fáceis de usar. Para evitar diferenças regionais e culturais o teste foi repetido com israelenses e os resultados foram ainda mais acentuados.
As pesquisas mostram que a estética influencia na função, ou na maneira com que as pessoas percebem o funcionamento dos produtos, Segundo Norman (2008, p.38) “Emoções, nós agora sabemos, mudam a maneira como a mente humana soluciona problemas – o sistema emocional muda a maneira como o sistema cognitivo opera.”
As pesquisas apontam para a importância de além de provocar emoções nas pessoas através dos objetos, fazer com que os objetos respondam essas emoções, aproximando-os ainda mais do homem e estabelecendo uma comunicação entre ambos.
Pode-se concluir que os objetos provocam emoção primeiramente a partir da visão, que conectada diretamente ao cérebro atinge o sistema emocional, que é responsável pela capacidade de tomar decisões e fazer julgamentos e escolhas.
A aparência do produto, compreendido pelo sistema emocional influencia na usabilidade do produto, sendo que produtos melhor compreendidos visualmente, segundo pesquisas, parecem funcionar melhor.
A maneira com que o homem escolhe e interage com os objetos é uma forma indireta de demonstrar quem ele é, e como percebe o mundo. Interessa ao designer descobrir quem é esse homem, suas aspirações e desejos para poder traduzir isso em forma de novos produtos.
O estudo do Design Emocional procura compreender porque determinada forma, cor, textura, som podem ser agradáveis ou desagradáveis para as pessoas, para poder determinar parâmetros para o desenvolvimento de produtos mais atrativos que interajam de forma natural com o usuário.
Referências:
DAMÁSIO, Antônio R. O erro de Descartes: emoção , razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
NORMAN, Donald A. Design Emocional. Rocco. Rio de janeiro, 2008