Por séculos vivemos inseridos numa predominante cultura de pensamentos e métodos lineares. Desde a infância nossa educação (ou pressão) fixa-se na ORGANIZAÇÃO como requisito básico para viver. Como a sociedade acredita nisto, nosso cérebro acaba captando o fator “organização” como verdade absoluta. Esta “verdade” parece ter funcionado até o século XX. Mas e daqui para frente, seguiremos este raciocínio? É saudável continuar a fazer as coisas do mesmo jeito?
A tão elogiada teoria Henry Ford de produção já está obsoleta se pensarmos nos desafios atuais e futuros de nosso planeta. No meio empresarial as palavras inovação e criatividade estão no topo das prioridades para a sobrevivência dos negócios e dos empregos. Mas nesta busca por competitividade, existe um fator contraditório que bloqueia este principal objetivo das empresas. Como ser inovador e criativo com o pensamento e métodos lineares arcaicos? Não tem como. Talvez se as companhias aplicarem um pouco de desorganização em seus métodos conseguirão ter mais sucesso. Loucura? Não, é uma alternativa ousada.
Para o professor de Administração da Universidade de Columbia Eric Abrahamson e para o jornalista David H. Freedman, autores do livro Uma bagunça perfeita – Como aproveitar as vantagens da desordem, o planejamento rigoroso e o excesso de organização podem bloquear a imaginação, isto é, podem extinguir as inovações de uma empresa e transformar pessoas talentosas em frustradas.
Existe ainda muito preconceito com pessoas desorganizadas, pelos motivos sócio-culturais já mencionados. A desorganização faz parte da vida de muita gente que, sequer se dá conta disso. A maioria destas pessoas são Cronicamente Desorganizadas(CD), que de acordo com o grupo de estudos americano NSGCD (National Study Group on Chronic Disorganization) têm alguns comportamentos comuns como:
– Acúmulo de grandes quantidades de objetos, documentos, papéis ou outras posses além da necessidade;
– Dificuldade em se separar das coisas;
– Ter uma vasta gama de interesses e muitos projetos não finalizados;
– Necessidade de “dicas” visuais para se lembrar do que fazer;
– Tendência a se distrair facilmente ou perder a concentração;
– Ter, frequentemente, habilidades fracas de gerenciamento.
Se isolar estas características como informações para contratação de profissionais, é provável que as empresas excluam este perfil de candidato. Mas pasmem, as pessoas Cronicamente Desorganizadas estão entre as mais criativas e inovadoras. Sabendo deste fato, será que as empresas estão preparadas para reconsiderar toda sua filosofia e serem realmente inovadoras? O que antes era descartado pelas empresas agora começa se transformar em necessidade. É claro que a completa desorganização não ajuda nada nem ninguém, por isso as pessoas CD necessitam de ter acompanhamento de pessoas organizadas para se ter o equilíbrio e conseguir extrair algo positivo na desordem. Por exemplo, para uma pessoa CD apresentar seu potencial criativo e inovador é preciso cortar ao máximo os processos burocráticos e repassa-los à pessoas com perfil para esta rotina. Desta forma se consegue tirar coisas desnecessárias de um cérebro criativo e potencializar seu talento.
E para a criatividade fluir com o objetivo de se obter inovações é necessário se ter um ambiente propício para isso acontecer. Existem diversos métodos para geração de idéias como o Brainstorming, Polinização Cruzada e Relações Forçadas, mas com certa desordem se poderia estimular o cérebro à fazer isso naturalmente e não como um método utilizado isoladamente. Ter uma desorganização em algum ponto do processo de trabalho ou ambiente é como “quebrar o gelo” de um processo linear, isto é, estimula o cérebro a fazer sinapses (comunicação entre neurônios) de uma forma sempre diferente. Em outras palavras, as ligações de informações armazenadas no cérebro não serão padrão como à de pessoas rigorosamente organizadas.
Enfim, este texto não tem o objetivo de fazer apologia ao caos, mas tem sim o dever de provocar as mentes de todos aqueles que não aprovam uma mesa bagunçada.
Abraços,
Eduardo M. Borba
Não olhem para minha mesa agora!
Gostei deste POST!..hehehe
Não sei porque mas também gostei 🙂
Há inúmeros exemplos de invenções que surgiram “sem querer”, que o objetivo inicial deu errado mas o inventor percebeu outra utilidade, coisas como microondas, “superbonder”, aspartame, teflon, e até o viagra 🙂